É muito triste perder um animalzinho, mas para nós adultos às vezes se torna um pouco mais fácil aceitar e entender, porém para as crianças, perder seu melhor amigo não é tarefa fácil de aceitar ou compreender.
Por isso perguntamos à psicanalista de São Paulo, Camila Flaborea, qual a melhor conduta a ser seguida nesse momento, e vamos tentar ajudar você e sua família nessa difícil tarefa.
1- Os pais devem explicar para a criança que o pet está já doente? Como deve ser feita essa preparação psicológica inicial?
Contar a verdade é sempre a melhor opção, desde que as informações sejam dadas dentro de um parâmetro que a criança possa entender e absorver. Usar a linguagem dela, dizer que o pet “está dodói, que vai ao hospital tomar um remédio e lá vão fazer tudo que eles podem pra ele melhorar” pode ser uma boa opção, desde que a criança já tenha compreensão do que seja ir ao médico/hospital, e que ela possa absorver essa informação. Caso a criança seja pequena demais, não há utilidade nisso. À grosso modo, por volta de 2 anos, as crianças já começam a ser capazes de entender isso.
2 – Caso o pet morra os pais devem esconder a informação no primeiro momento e só contar depois?
Novamente, a idade da criança é fundamental. Por exemplo, um bebê vai sentir falta do animalzinho, e alguma comunicação deve ser feita, mas para uma criança que já se comunica pelas palavras é preciso dar uma explicação um pouco maior. Seja a respeito do animal que acabou de falecer ou caso haja algum questionamento por parte da criança sobre um falecimento anterior, depois que ela cresce um pouco. É preciso que os adultos saibam que as crianças são seres extremamente sensíveis e, ainda que não encontrem palavras, elas sentem e refletem as mudanças em seu ambiente, formado por pessoas ou animais.
3- A criança de acompanhar os processos? Como ir no veterinário, nas consultas ou se despedir do pet numa possível eutanásia?
Esses processos costumam ser muito doloridos, inclusive para os adultos. A criança, quanto menor for, deve ficar o mais distante possível disso. Os adolescentes devem ser consultados e orientados pelos responsáveis em outros parâmetros. Ver o animal sofrendo ou sendo encaminhado para a eutanásia é excessivo para o psiquismo da criança.
4- É certo dizer a criança que o pet virou estrelinha? Ou fazer alguma dessa analogia, ou devemos falar a verdade na hora que o bichinho morre?
Muitos caminhos podem consolar a criança diante dessa separação: o pet virou estrela, está no céu dos cachorros/gatos, está brincando nas nuvens, etc. Todas são consoladoras, caso ainda façam sentido para a criança que passa a entender que o pet está bem, feliz de novo e não mais doente. No caso dos adolescentes, o conceito de morte já adquire um significado que pode ser absorvido e elaborado. Mas sempre é preciso que seja considerada a crença familiar. Os pais devem avaliar o que pretendem passar a respeito do conceito de morte para seus filhos e em que momento introduzí-lo.
5- Os pais devem demonstrar também suas dores nessa hora, ou devem se mostrar fortes a seus filhos?
Os pais podem demonstrar a tristeza pela partida do pet desde que não assuste ou reprima a expressão da criança. Nesse momento, compartilhar a dor entre todos da família pode ser muito saudável, desde que a criança não sinta que a dor dos pais ocupa todo o espaço e elas ficam sem ter quem as console e acolha sua tristeza. Isso seria estar triste E ser forte ao mesmo tempo.
6- Se depois de alguns dias a criança continuar triste e chorando, os pais devem ser solidários ainda ou devem estimular que ele já está grandinho e precisa entender que isso faz parte da vida?
O processo de luto demanda tempo. Pets são membros da famíla. A criança deve ter seu tempo de luto respeitado, sempre, seja com um pet ou um humano.
7- Como ajudá-lo a superar essa perda? Existe algo que possa ajudar nessa hora?
Acolher seu choro, sua saudade, reforçar as idéias consoladoras do destino do pet, normalmente é o suficiente. O tempo do luto se encerrará por si. Caso essa situação demore mais tempo do que os pais julgam saudável, o ideal seria encaminhar para uma avaliação com um profissional. As crianças, assim como os adultos, podem precisar de ajuda para superar perdas e, com o papel de membro da família que os pets adquirem cada dia mais, isso não se torna nada diferente da perda de um humano. Ainda pode haver a hipótese da criança não manifestar imediatamente a dor da perda; isso pode ocorrer bastante tempo depois e ainda assim os eventos estarem relacionados. Também é importante observar se a perda do pet não desperta na criança o medo de perder outros membros da família.
8- Muitas pessoas para tentar fazer o filho superar mais rápido acabam dando outro bichinho no lugar, isso é uma boa prática?
No meu modo de ver, a pessoa estará pronta para outro pet depois que o luto pelo anterior se encerrou. E isso é um processo absolutamente individual. Cada indivíduo tem seu tempo, independentemente da idade.Tentar apressar esse processo normalmente é uma estratégia que serve mais para que os pais não vejam os filhos tristes. No entanto, poder ficar triste e aprender a superar as dores da vida com o auxílio da família é uma oportunidade preciosa de desenvolvimento psíquico que não devemos negar às crianças.
Esse texto foi escrito pela psicanalista Camila Flaborea (contato: cflaborea@gmail.com) e não deve ser copiado sem autorização prévia de nosso blog!